domingo

DO SALAR DE UYUNI A BRASÍLIA


Rodovia Uyuni-Potosi

Asfalto enfim, entre Potosi e Sucre
Dinossauro na entrada de Sucre

Dia 18 de outubro de 2010, segunda-feira. De UYUNI a SUCRE, Bolívia. 380 km rodados no dia (97 off road). Total da viagem: 2782 km, dos quais 1373 km no Peru e 1089 km na Bolívia. 348 km off road até aqui.
a) PRESOS FORA DO HOTEL - ontem, na nossa última noite em Uyuni, aconteceu algo inusitado. Saímos para jantar e, quando voltamos, encontramos o hotel trancado, com a gente do lado de fora. Dá pra acreditar? Como quase todos os negócios por aqui, tratava-se de um hotel gerenciado por uma única família e, talvez por ser domingo, a dona do empreendimento resolveu passear pela cidade. Ficamos esperando na frente ao hotel por cerca de 40 minutos, sob frio de 12 graus. Alexandre saiu para procurar a polícia da cidade, para pedir ajuda. Quando a dona do estabelecimento chegou, quase 22 horas, ela perguntou sobre meu amigo e eu disse: "Uai, ele foi atrás da polícia!". Ela saiu rapidinho e se trancou no quarto.
b) Hoje saímos cedo em direção a Sucre, a capital boliviana (??!!). Aliás, diga-se de passagem, uma "capital de araque", porque os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário continuam com suas sedes em La Paz.
c) Passamos por uma rodovia não pavimentada em melhor estado do que a que nos trouxe ao Salar de Uyuni, no trecho até Potosi. Muitas montanhas, abismos, altitudes acima dos 4 mil metros, e um visual de arrepiar as fibras da alma. Esta rodovia está em obras e penso que em menos de 1 ano o asfaltamento integral da via estará concluído. A empreiteira responsável pela obra é a famigerada brasileira OAS. É aquela mesmo, envolvida em tudo quanto é escândalo financeiro no nosso país.
d) Chegamos a Sucre e a beleza da cidade nos impressionou. O centro histórico é algo maravilhoso! A cidade é um dos maiores sítios paleontológicos das Américas e logo na entrada há uma enorme estátua de um Dinossauro. Saimos para jantar à noite e "pisei na bola": esqueci a máquina fotográfica no hotel. Não pude registrar o belíssimo centro histórico da cidade, muito bem conservado e iluminado.
A caminho de Cochabamba
Rodovia com calçamento de pedra


Moto nas alturas
 Dia 19 de outubro, terça-feira. De SUCRE a COCHABAMBA, Bolivia. 370 km rodados hoje (134 km off road). Total da viagem: 3152 km, sendo 1373 no Peru e 1459 km na Bolívia. 482 km off road até aqui.
a) Saímos de Sucre por volta das 8 h e perdemos boa parte da manhã tentando achar a saída da cidade. As municipalidades bolivianas (e peruanas) são problemáticas em sinalização. Tivemos que parar e perguntar para uma dúzia de pessoas como encontrar a rodovia.
b) Nosso destino de hoje era Santa Cruz de la Sierra, onde pretendíamos ficar 2 dias para descanso, antes de retornar ao Brasil. Porém, fomos vítimas de um erro do Mapa do Mercosul da 4Rodas (não sei porque a Bolívia consta deste mapa), que informa que a Ruta4 está asfaltada. Já sabíamos da existência de um trecho razoável sem pavimentação antes de chegar a esta rodovia. Não contávamos que também havia outros 85 km de estradas com calçamento de pedra, ao estilo do piso de Ouro Preto. Tanto no rípio quanto na pedra, a moto, os ossos e as bochechas trepidaram vigorosamente. E as costelas do Alexandre reclamando dos sobressaltos. Chegamos à Ruta4 exaustos, passando por Aiquile e Totora, ansiosos por encontrar o asfalto que pensávamos existir naquela rodovia. Como não encontramos, resolvemos mudar nosso destino para Cochabamba, porque descobrimos de última hora que ainda havia 350 km de off road até Santa Cruz. Devo salientar que sequer 30% das rodovias bolivianas são asfaltadas e este tipo de piso é uma raridade por aqui.
c) Acabamos trocando uma cidade grande por outra. A Bolivia é um lugar muito precário. Foi curioso saber de supetão que não existe ligação asfáltica da capital (Sucre) à cidade mais rica do país (Santa Cruz de la Sierra).

Estrada para San Javier

Estrada para San Javier
Igreja Jesuíta de San Javier
Estrada com areia (leve)
Parada básica para descanso

Off road para San Javier

Dia 20 de outubro, quarta-feira. De COCHABAMBA a SAN JAVIER Bolivia. 615 km rodados hoje em 11:40 h de pilotagem (35 km off road). Total da viagem: 3767 km, sendo 1373 no Peru e 2074 km na Bolívia. 517 km off road até aqui.
a) Aproveitamos pouco a cidade de Cochabamba. Chegamos ao final da tarde, muito preocupados em falar com nossos familiares e amigos que nos acompanhavam pelo Google Maps pelo sinalizador "Spot". A maioria não entendeu nossa guinada para a esquerda, com destino oposto ao do Brasil. Jantamos comida chinesa por 16 bolivianos (R$ 4,20) e fomos dormir cedo.
b) Pegamos excelente trecho asfaltado na saída de Cochabamba, em trecho de descida íngreme, com curvas de arrepiar. Foi irrelevante não termos ido à "Carretera de La Muerte", porque todas as rodovias em montanhas bolivianas são "de la muerte", assim como todas as não pavimentadas são "de los infernos".
c) Transitamos por muito tempo pelo bom asfalto da Ruta 7 até a cidade de Montero. Dali mudamos de rumo, pela Ruta 9, com destino a San Javier, onde pretendíamos pernoitar. Novamente, voltamos a pegar bom trecho de off road. Precisamos de 1:50 h para atravessar apenas 35 km de estrada de terra e, deste tempo, mais de 1 hora foi gasta na travessia de 3 km de areia. A XT do Alex atolou nos balcões arenosos de até 50 cm de profundidade e só houve um jeito de sair: descendo das motos, tirando-a da areia no braço, sob sol escaldante de 41 graus. Apesar dos desafios do terreno e do calor, passamos por muitos córregos e rios que dão certa beleza à região. Muitas pontes de madeira ou travessias feitas sobre balsas estacionadas entre uma margem e outra.
d) Chegamos a San Javier, cidade construída pelos Jesuítas, e ficamos encantados com a arquitetura do local. Passamos uma noite agradável num hotel bastante charmoso, o Amé Tauná, ao custo de apenas R$ 25,00 o quarto individual.

Cenários da estrada

No trecho off road para a fronteira
Fila para abastecer em San Ignácio de Velasco

Últimas montanhas do caminho

Dia 21 de outubro, quinta-feira. De SAN JAVIER a SAN VICENTE DE LA FRONTERA, Bolivia. 590 km rodados hoje (278 km off road). Total da viagem: 4357 km, sendo 1373 no Peru e 2664 km na Bolívia. 795 km off road até aqui.
a) No trecho de San Javier e Santa Rosa, o aparelho "spot" (que permitia que fôssemos acompanhados pelo Google Maps), caiu da moto em algum ponto do caminho. Este equipamento não funciona bem grudado ao corpo e, por isso, tive que dar um jeito de amarrá-lo no baú traseiro, com barbante, arame e duas malhas de rede elástica. Mas tudo isso não foi suficiente para segurá-lo no piso trepidante da Bolívia. Se no local houvesse cobertura de celular, ficaria fácil achá-lo, porque bastaria telefonar para algum amigo, pegar as coordenadas do GPS e pronto. Como ficamos quase 3 dias inteiros sem celular (e os telefones fixos também não funcionavam neste trecho), tivemos que perambular por cerca de 30 km em busca do aparelho, sem sucesso.
b) Compramos gasolina numa barraca em Santa Rosa, porque não havia posto de combustível pelo caminho. Logo depois, pegamos fila para abastecer no posto de San Ignácio de Velasco.  Apesar da demora, demos sorte, porque faltou gasolina nos 3 dias anteriores à nossa passagem pela cidade.
c) Chegamos a San Vicente de la Frontera, com a intenção de seguir para o Brasil. Tive sensações de vertigem por causa do calor de 44 graus no trecho não pavimentado que antecedeu nossa chegada. Paramos em um restaurante da cidade para refrescar, comer e beber muito líquido. Ainda estava cedo, porque o trecho off road de hoje foi bastante tranquilo. Chegamos a pilotar acima dos 80 km/h por longo período.
d) BLOQUEIO NA FRONTEIRA - Chegamos a iniciar nossa ida para a fronteira, mas tivemos a notícia de que o caminho "natural" para o Brasil, por San Matias, estava bloqueado por um movimento popular, que exigia a reconstrução de uma ponte que pegou fogo há algum tempo (ponte de madeira, claro).
Não teve jeito, o bloqueio na rodovia nos obrigou a voltar e dormir em San Vicente para tentar encontrar um caminho "alternativo" no dia seguinte. Não havia telefone funcionando na cidade e não tivemos como entrar em contato com familiares e amigos no Brasil.

Pôr-do-sol

"Comida brasilera"

Saindo de San Vicente de la Frontera
Cadê a fronteira?

Tipo de ponte mais comum nas estradas bolivianas
Primeiro posto de gasolina do lado brasileiro da fronteira

Rodovia de terra no Brasil depois da fronteira boliviana

Dia 22 de outubro, sexta-feira. De SAN VICENTE DE LA FRONTERA a CUIABÁ. 586 km rodados hoje (244 km off road). Total da viagem: 4743 km, sendo 1373 no Peru e 2684 km na Bolívia. 1039  km off road até aqui.
a) SAIDA DA BOLÍVIA - Saímos da Bolívia ao "estilo contrabandista", passando por uma rota alternativa, errando caminho, adentrando fazendas, abrindo porteiras e passando por pinguelas até encontrar o posto do GEFRON (polícia de fronteira brasileira). Saímos sem registrar nossa saída no Serviço de Migração boliviano (aduana) e sem carimbar o passaporte. Vamos resolver esta situação na Embaixada da Bolivia a posteriori.
b) Ah, como é bom voltar ao Brasil, tomar um cafezinho, comer pão de queijo e cochinha de galinha. Nas paradas no estrangeiro não havia esses petiscos prontos para serem devorados. Vez por outra uma empanada, mas nem sempre. Até as nossas estradas de terra são mais suaves. Andamos tranquilos no trecho não pavimentado até às proximidades de Porto Espiridião/MT, a 100 km de Cáceres, onde registramos nosso retorno ao Brasil no posto da Polícia Federal daquela cidade.
c) Aceleramos forte no asfalto para chegar a Cuiabá antes de anoitecer. Pegamos excelente orientação dos atenciosos policiais federais em Cáceres e não tivemos qualquer problema de encontrar um bom hotel em frente à rodoviária da cidade.

Engarrafamento para atravessar a ponte sobre o Rio Araguaia, em Barra do Garças/MT

Último jantar em S. Luiz dos Montes Belos/GO

Dia 23 de outubro, sábado. De CUIABÁ/MT a S. LUIZ DOS MONTES BELOS/GO. 853km rodados hoje no asfalto. Total da viagem: 5597 km, sendo 1373 no Peru e 2684 km na Bolívia. 1039 km off road até aqui.
a) Saímos de Cuiabá sem qualquer problema para encontrar a rodovia. Fomos aconselhados a ir pela Chapada dos Guimarães por causa da enorme quantidade de caminhões no trecho por Rondonópolis. Assim o fizemos. O asfalto em excelente estado, cheirando a novo, nos permitiu acelerar forte no dia de hoje. Mesmo com alguns trechos sob chuva, conseguimos cumprir boa quilometragem.
b) Depois de Barra do Garças adentramos Goiás, já nos sentindo em casa, dada  a proximidade de Brasília.
Chegando em casa
Dia 24 de outubro, domingo. De S. LUIZ DOS MONTES BELOS/GO a BRASÍLIA/DF. 327 km rodados no asfalto. Total da viagem: 5924 km, sendo 1373 no Peru, 2684 km na Bolívia e 1867 km no Brasil. 1039 km off road acumulados em todo o percurso.
a) De Montes Belos a Brasília foi um pulo. Sequer nos preocupamos em sair muito cedo, porque na pior das hipóteses chegaríamos em Brasília na hora do almoço.
b) Adentrei as portas de casa por volta das 12:30h, com espírito leve e o corpo encharcado, depois de uma breve chuva na chegada da cidade.
c) Fechamos mais um projeto de sucesso em busca dos segredos de nossa América e sentimo-nos realizados, certos de que o desafio, as dificuldades e obstáculos valeram a pena. A cada quilômetro rodado aprendemos muito, particularmente por termos realizado uma "viagem de descobertas", tanto do território explorado, quanto de nós mesmos. Um mergulho para dentro de nossa alma.
d) Alexandre foi um parceiro excepcional! Teve paciência extrema e bom-senso em todos os dias desta aventura amalucada. Demonstrou frieza nos instantes de desafio e tranquilidade nos momentos de estresse. Superou com serenidade o cansaço, a dor e o desgate físico que esta experiência nos impôs.
e) Termino este modesto relato por aqui. Obrigado a todos que nos acompanharam nesses 16 dias de estrada. Forte abraço e até a próxima.

18 comentários:

Sérgio Cruz disse...

Show meu irmão! Parabéns

CândidOsório BMCB/ISF-HSF/BRZ disse...

Maravilha!
Que bom que chegaram bem!

Evanio disse...

Parabéns Flávio,

Estou ansiosos para podermoconversar sobre a viagem.

Gaitero disse...

Prezados amigos, estamos felizes pelo sucesso de mais essa expedição. Parabéns!!! Agradecemos a vocês o privilégio de seguí-los numa viagem emocionante, mesmo que virtualmente pelo blog e spot. Isso nos inspira a continuar rodando de motoca em busca de grandes realizações estradeiras como essa.
Abraços e sejam bem vindos!!!
Gaitero.

Unknown disse...

Oi, Flávio que bom que voltaram, agora é trabalhar e deixar de vida mansa... rsrsrs... Abraços...

Sérgio Dutra disse...

Oi Flávio,
Parabéns para você e para o Alexandre pelo sucesso da expedição. Bela aventura, belas fotos, obrigado por compartilhar conosco.
Estamos felizes por terem retornado em paz.
Um grande abraço
Sérgio e Bere

Murilo M disse...

Parabéns aos dois. Hj cansados, amanha a saudade dos desafios e a vontade de repetir outros trechos e assim vamos vivendo. O mais importante: diante de tantos desafios, culturas, pobreza, vamos no situando cada vez mais em nossas vidas, valorizando cada dia nosso aqui no BRA, nossa situação, realidade do mundo que nos rodeia. Vamos cada vez mais nos posicionando no lugar correto e humilde perto do mundão que "ainda temos" que explorar.

Murilo.
-

ROTA 66 disse...

Parabens pela viagem,
excelentes fotos e relatos.

Romeu

Anônimo disse...

Flávio e Alexandre, mais uma vez parabêns. Com certeza uma viagem dessa grandeza separa os homens dos meninos, ou os curiosos dos verdadeiros motociclistas.
valeu.

ZAEL LOPES BATALHA
ABNEGADOS MC.

Max disse...

Parabens Flávio, você é um guerreiro!

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel

Nelson Santos disse...

Excelente material. Maravilha de viagem. Encontrei este blog hoje. Estou na fase final de preparativos para minha viagem ao Peru. Impressionante a coincidência. A moto também segue de Florianópolis para Rio Branco por transportadora (4.000km). Inicio também num sábado, ao invés de 09/10, sigo para Puerto Maldonado em 08/10. Até a saída de Cusco, o roteiro é o mesmo, depois sigo pelo Peru, mais ao norte, em direção a Cordillera Blanca. Na volta vou a Puno e Isla de Uros. Obrigado pela riqueza dos detalhes de sua viagem. Serão de grande ajuda, para mim e outros tantos companheiros que pretendem utilizar este excelente caminho da Transoceaica. Ah, também vou de 650...só que de Freewind. Abraço.

poesía basura disse...

Fiquei admirado por essa aventura, espero poder em vida concretizar uma viagem dessas.
Estou pretendendo ir de Natal RN a Colômbia. qual caminho sugeres?
abraço

Horcades Júnior disse...

Excelente relato meu colega, com viagem que teve início no meu Acre!!
Em breve pretendo realizar minhas aventuras.
Abraços.

Marcos Freire\GO disse...

Não sei se sinto feliz ou triste, pretendo fazer esta jornada mas não imaginava que as estradas de outros países nos deixasse com saudade de nossas péssimas estradas, o companheirismo foi essencial para superar as dificuldades pretendia viajar sozinho mas depois de ver as dificuldades desisto, vou atras de um companheiro, o seu relato foi completo, magnífico, parabéns.

Anônimo disse...

Rapazes,
Parabéns pelo projeto!
Penso em fazer algo parecido um dia partindo se SP.
Agradeço pela "garupa" de belas fotos... São de realizações como essas que descobrimos e aprendemos com nossos limites.
Deixo uma pergunta: Essa rota poderia ser bem coberta por uma BMW R1200GS? Por ser uma moto mais pesada, imagino que teria maiores problemas no trecho off road.
Abraços,
Sérgio Martinez
Sergiodoriamartinez@hotmail.com

Unknown disse...

Olá tudo bem? Parabéns pela viagem! tenho uma yamaha mt03 gostaria de conhecer o deserto de sal, porém vou por MS Corumba, qual documentacao sao exigidas para atravessar a fronteira, eu já tenho o passaporte, cnh permissao intarnacional e o seguro, o restante consegue na propria fronteira? Obrigado alanno1987@hotmail.com

Anônimo disse...

Parabéns aos dois aventureiros!! Obrigado por compartilhar sua jornada.